Ser Empreendedor

Caraterísticas e motivações

A definição de empreendedor é ainda hoje alvo de discórdia entre diversos agentes económicos. As palavras nem sempre são as melhores para descrever a realidade, talvez porque a realidade seja bem mais complexa do que a capacidade que o nosso léxico tem para a descrever. O papel do empreendedor num determinado negócio ou numa organização é um desses exemplos, onde se torna difícil descrever, por palavras, a sua importância tanto para a empresa como para o tecido empresarial português e mundial.

Em Portugal, o tecido empresarial é maioritariamente constituído por PMEs (99,9%), todas elas impulsionadas por pessoas dispostas a correr riscos, investindo as suas próprias poupanças, contraindo empréstimos e muitas vezes deixando o conforto do seu posto de trabalho para se aventurarem rumo ao desconhecido. Aventuras onde as possibilidades de sucesso, e os ganhos financeiros a longo prazo são muito baixos (apesar de os empreendedores muitas vezes não contemplarem essas possibilidades aquando da criação do negocio, por estarem tipicamente muito otimistas face à ideia).

De acordo com o dicionário Merriam-Webster, o empreendedor é assumido como “o agente que organiza, gere e assume os riscos de um determinado negocio ou empresa”. Já o dicionário digital Dictionary.com define o empreendedor como “a pessoa que organiza e gere toda e qualquer empresa, e em especial um negocio, normalmente com iniciativa e riscos consideráveis”.

Estas são apenas duas das muitas definições de  um empreendedor, e apesar de semelhantes existe um pormenor a destacar: “toda e qualquer”. O Empreendedor é aquele que identifica uma necessidade – qualquer necessidade – e a satisfaz. No mais puro dos sentidos, trata-se de um estimulo independente de qualquer produto ou serviço, industria ou mercado. Um estimulo que, do ponto de vista económico, motiva o ser humano a procurar uma solução, um estimulo que tem impulsionado o desenvolvimento económico das regiões e que gera riqueza, emprego, um bem social comum, geração após geração.

Investimento e Inovação

Claro que para o mais comum dos mortais, entenda-se o ser humano, a argumentação sobre a criação de valor, geração de emprego e riqueza, é muitas vezes difícil de entender. Isto porque historicamente, o ritmo de crescimento do lucro das empresas não acompanha o ritmo de crescimento da remuneração paga aos colaboradores. Pois acontece que, na maioria dos casos uma fatia considerável desse lucro é posteriormente aplicada em investigação e desenvolvimento. É direcionado para o estudo e desenvolvimento de novas soluções, soluções mais tarde adquiridas por consumidores e pelos próprios colaboradores. Colocar-se-á a questão: E se os proveitos das empresas fossem primeiramente colocados à disposição dos colaboradores, e se aumentassem mais o salário e menos o investimento em inovação? Talvez hoje não existissem tantas soluções no mercado, talvez não existissem produtos e serviços tão inovadores. Talvez ainda não existisse sequer um smartphone, ou uma simples máquina de café. Talvez os colaboradores tivessem, de facto, mais meios financeiros, mas não tivessem onde os gastar por não lhes serem incutidas necessidades sobre produtos inexistentes. Sentiria  a necessidade de ter um computador se eles não existissem? De uma ou de outra forma, este foi o rumo económico escolhido pela sociedade e é nele que hoje nos enquadramos. E por isto, é preciso dar relevância a quem investe, a quem gera riqueza, emprego, e muitas outras variáveis que combinadas contribuem para o desenvolvimento humano a curto, médio e longo prazo.

Qualidades de um empreendedor

De todas as qualidades que compõem um empreendedor, destacam-se a propensão ao risco, visão, liderança, persistência, astúcia para saber quando parar. E talvez para o leitor existam outras que não são aqui mencionadas, mas seja como for não existem verdades absolutas neste domínio. Ainda assim, o empreendedorismo não pode ser considerado um trabalho, muito menos o papel de líder. Sem conhecimento, sem produtos ou serviços reais, sem negocio real, sem risco real e sem perspectivas de retorno do investimento, não existe trabalho, não existe empreendedorismo.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o empreendedor é também a principal variável que afeta as PMEs, uma vez que é aquele que toma as decisões dentro da empresa, muitas vezes sem aconselhamento,  e que diretamente influencia a estratégia adoptada pela organização.

 Até agora, discutiu-se a definição e brevemente as qualidades do empreendedor. E nas 700 palavras já escritas, nem por uma vez se falou em ideia. Isto porque apesar de relevante para a discussão, não é o mais importante. Mas, também aqui chega a altura de passar das palavras à ação, e para o caso, deixar de falar sobre o “empreendedor” e dar pelo menos um exemplo.

Evan Spiegel, desconhecido pela maioria é, todavia, o CEO da Snap Inc., mais conhecida pelo desenvolvimento da aplicação SnapChat. Uma empresa real com um produto real, colaboradores reais e investidores reais. A empresa liderada por Evan Spiegel encontrou uma forma de atrair centenas de milhões de pessoas que se tornaram utilizadoras regulares da aplicação para smartphone e, em igual importância, conseguiu atrair mais de 500 mil milhões de euros em fundos para executar a sua iniciativa.

Poder-se-ia dar mais exemplos, mas um deverá ser suficiente para chegar ao ponto que, desde o inicio, serve de diretriz para contextualizar melhor o leitor com o conceito de empreendedor. Evan Spiegel tem um trabalho, um trabalho real. Com produto, produto real. E tem uma empresa com negócios reais.

Se quiser ser um empreendedor de sucesso, “não comece por tentar ser um”. Comece com um problema, do ponto de vista do consumidor, e um produto ou serviço que o resolva. Atraia financiamento. Desenvolva o produto ou o serviço, comunique-o, ganhe clientes. Um dia, acordará e perceberá aquilo em que se tornou: Uma pessoa propensa ao risco, que começou um negócio e que gerou riqueza. Por outras palavras, um empreendedor.

Fontes Consultadas